segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Populações e povos indígenas ocupam canteiro de Belo Monte e fecham transamazônica

28/10/2011
Fonte: Brasil de Fato, por Renato Santana

O canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira (PA), está ocupado por mais de 600 indígenas, pescadores, ribeirinhos e populações ameaçadas pelos impactos sociais e ambientais do grande empreendimento. A ocupação começou na madrugada desta quinta-feira (27).

A Rodovia Transamazônica (BR-230), a partir de trecho em frente ao canteiro, na altura da Vila de Santo Antônio, região de Altamira, está interditada e só passam veículos transportando doentes.
Em assembleia realizada na manhã desta quinta-feira, o movimento definiu como principal reivindicação que o governo federal envie autoridades para negociar com os as populações tradicionais o fim das obras de Belo Monte.

Outra decisão tomada pelos ocupantes é que o acampamento no canteiro de obras será permanente e desde já convocam outras entidades e movimentos a cerrarem fileiras nessa luta que, conforme os manifestantes, não irá parar.

Todo o processo de ocupação ocorreu de forma pacífica e é fruto das discussões entre os povos tradicionais durante o seminário “Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu”.

Com o encontro, se pretendia analisar a conjuntura em torno de Belo Monte e discutir respostas às situações de risco e impactos geradas pela usina. As mesas de debate foram suspensas em vista da ação de ocupação do canteiro de obras.
São 21 povos indígenas envolvidos na mobilização. “Para mim, as pessoas que estão querendo fazer essas usinas, são uma doença. São um câncer que vai matar o planeta. Nós somos o remédio para essa doença!”, disse Davi Gavião que segue: “Sou filho de quem foi impactado por uma usina. Faz 35 anos que nosso povo foi retirado da sua área e até agora estamos lutando por uma indenização. Faz 35 anos! Essa Belo Monte vai trazer muitos impactos também. Temos que lutar contra todas as barragens! (sic)”.

Entre os pescadores, Raimundo Braga Nunes: “Tenho certeza que depois de Belo Monte vou ser obrigado a mudar de trabalho, porque peixe não vai ter. Vai morrer, ou vai migrar. Eu não me calo, estou pronto para brigar, preparado. Convido nossos amigos indígenas para somar forças para proteger nosso rio. O Xingu é nosso pai e mãe”.

Decisão adiada - Nesta quarta-feira (26), as populações impactadas viram o desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) Fagundes de Deus votar contra a Ação Civil Pública que pede a paralisação das obras de Belo Monte. Conhecedor do setor energético, o desembargador se posicionou tendo como base a experiência adquirida na área, pois já advogou para a empresa Eletronorte.
Impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF), a ação é um recurso de apelação onde se pede o cancelamento do licenciamento ambiental e a inconstitucionalidade do Decreto 788/2005 do Congresso Nacional – que libera a obra sem a realização da consulta de boa fé aos povos indígenas do Xingu e populações tradicionais, tal como diz a Constituição Federal e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A desembargadora Maria do Carmo Cardoso, terceira a votar a matéria durante a sessão desta quarta-feira doTRF-1, em Brasília (DF), pediu vistas da Ação Civil Pública e interrompeu o julgamento – programado para entrar em pauta no dia 9 de novembro.

Dessa forma, a ocupação é também uma resposta a postura da Justiça que apesar de todas as irregularidades, 11 ações denunciando ilegalidades no processo de Belo Monte em tramitação, além de pareceres contrários à obra trabalhados por um painel de especialistas e MPF, não interrompe as obras. Sobretudo, não reconhece a e leva em conta a opinião das comunidades que agora ocupam o canteiro.

Primeiro voto: a favor da ação - O primeiro voto dos desembargadores do TRF-1, no último dia 17, declarou inválidas a autorização e licença ambiental para Belo Monte. “É de nenhuma eficácia a autorização emitida pelo parlamento”. Com essas palavras a desembargadora Federal Selene Maria de Almeida desqualificou o Decreto Legislativo nº 788/2005 do Congresso Nacional que autorizou a construção da usina de Belo Monte. Ela considerou igualmente inválido o licenciamento ambiental de Belo Monte.

Num voto elaborado e denso, a desembargadora acatou a maioria dos pontos apresentados pelo MPF/PA, sendo o argumento mais importante o fato de as comunidades indígenas afetadas pela usina de Belo Monte não terem sido consultadas a respeito, conforme mandam a Constituição Federal e tratados internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2004 (Decreto nº 5.051/2004).

Ela não deixou dúvidas sobre a necessidade das oitivas: “A Constituinte prescreve que sejam ouvidas as comunidades indígenas afetadas. Para protegê-las”. Em seu voto, Selene reafirmou o posicionamento já adotado pelo TRF-1 quando da primeira avaliação da matéria, em 2006.

Assista ao vídeo Populações e povos indígenas, ocupam canteiro de Belo Monte e fecham transamazônica
"Diante da intransigência do governo em dialogar e da insistência em nos desrespeitar, ocupamos a partir de agora o canteiro de obras de Belo Monte e trancamos seu acesso pela rodovia Transamazônica. Exigimos que o governo envie para cá um representante com mandado para assinar um termo de paralisação e desistência definitiva da construção de Belo Monte", diz a declaração dos Povos do Xingu contra Belo Monte.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Apacc na Agência Radioweb

A tecnologia social da Apacc, finalista do prêmio da Fundação Banco do Brasil 2011, foi o assunto da matéria da Agência Radioweb (http://www.agenciaradioweb.com.br/home.php). A entrevista foi veiculada em 155 rádios, em todas as regiões do país. Para ouvir a matéria, acesso o link abaixo ou clique aqui.

MDA destina R$ 500 milhões para agricultura familiar no estado do Pará

21/10/2011 04:43

Em solenidade de lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012 no Pará, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, reafirmou a estratégia central das políticas de apoio à agricultura familiar. "Nosso objetivo é avançar na organização social e econômica da agricultura familiar no Brasil, na renda e conservação da biodiversidade. Essas decisões e ações consolidam o lugar da agricultura familiar como pilar central de desenvolvimento do Brasil que cresce”. O ministro destacou também o Plano Brasil Sem Miséria como ação fundamental de inclusão produtiva das famílias em condição de extrema pobreza residentes nos Territórios da Cidadania.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lançou nesta sexta-feira (21) o Plano Safra para o estado do Pará, pelo qual destina R$ 500 milhões para ações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) no estado. O acordo de cooperação para execução do Plano Safra foi assinado pelo ministro Afonso Florence e o governador Simão Jatene durante solenidade realizada em Belém, como parte da programação da Feira Frutal Amazônia e Flor Pará.

O governador ressaltou a parceria do Pará com o governo federal para a execução do Plano e citou a regularização fundiária como fundamental para o desenvolvimento do estado. “Que a luta pela terra seja motivação de vida para os brasileiros”, disse. “Tenho certeza de que o esforço dos atos aqui assinados significam passos importantes para a construção da sociedade que sempre desejamos, que tem sido acerto e luta dos trabalhadores rurais”, afirmou o governador.

Na solenidade, quatro famílias de agricultores familiares receberam pelo Programa Terra Legal Amazônia os títulos definitivos dos imóveis onde moram e trabalham em Concórdia do Pará. A prefeitura do município também recebeu o título definitivo de três bairros que ainda estavam em nome da União.

A agricultora Catarina Assunção de Sousa foi uma das beneficiadas, junto ao marido Francisco Ferreira de Sousa. O casal conta que agora pretende acessar créditos pois com o título querem investir na terra. “Isso significa muito para nós, posso dizer que trabalho no que é meu, posso produzir e zelar da terra que é minha. Estou muito feliz”, diz Catarina, que vai investir na produção de açaí, mandioca, cupuaçu e criar galinha na área de 21 hectares que pertence à família a partir de hoje.

A agricultora Edna Lúcia da Silva Lira recebeu o título de propriedade das mãos da secretária nacional de Regularização Fundiária da Amazônia Legal, Shirley Nascimento, simbolizando as entregas que ocorrerão ainda este mês em três municípios do Pará. Nos dias 27 e 28 de outubro, serão entregues 150 títulos rurais em Bujaru, Concórdia do Pará e São Domingos do Capim.

Plano Safra 2011-2012

Dos R$ 500 milhões destinados ao crédito de agricultores familiares do Pará, R$ 300 milhões são para operações de investimento e R$ 200 milhões para operações de custeio. A partir desta safra, todas as linhas de investimento do Pronaf, inclusive a Mais Alimentos, têm juros de 1% ao ano para financiamentos de R$ 10 mil e de 2% ao ano de R$ 10 mil até R$ 130 mil, com prazo de pagamento de até dez anos e até três anos de carência. Os recursos estão disponíveis nas instituições financeiras que operam com o Pronaf desde 1º de julho.

O Plano Safra da Agricultura Familiar 2011/2012 combina apoio ao aumento da produção de alimentos à geração de renda no campo e à promoção da organização econômica de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e povos e comunidades tradicionais.

“O Pronaf foi uma conquista histórica, resultado de luta dos movimentos de agricultores. Cumpre o papel de garantir o subsídio necessário para a atividade rural. Conseguimos alcançar um patamar de que há disponibilidade de crédito”, falou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetagri/PA), Carlos Augusto, na solenidade. “Além dos recursos, entendemos que esse momento celebra esta ação importante de implementação do Plano Safra. Esse ato aqui revela a importância da agricultura familiar, este segmento tão importante para o desenvolvimento do estado e da Amazônia”.

O lançamento do Plano Safra no estado contou com a presença dos secretários nacionais de Agricultura Familiar, Laudemir Müller, de Regularização Fundiária na Amazônia Legal, Shirley Nascimento, de Desenvolvimento Territorial, Jerônimo Rodrigues, o Delegado Federal do MDA no Pará, Paulo Cunha, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetagri), Carlos Augusto, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), o superintendente do Incra no Pará, Elielson Silva, e o secretario de estado de Educação, Cláudio Ribeiro.

Alimentação Escolar

Florence convocou prefeitos a comprarem produtos da agricultura familiar para compor o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE). “O PNAE tem o objetivo de garantir a segurança alimentar de crianças e jovens. Além disso, o programa estimula um círculo virtuoso da economia regional e garante a inserção da produção da agricultura familiar no mercado ”, ressaltou o ministro.

O PLano Safra reforça medidas de garantia de geração de renda, como as políticas de compras públicas do Governo Federal. Adesão das prefeituras ao PANE está sendo estimulada pelo MDA. A Lei da Alimentação Escolar determina que no mínimo 30% dos recursos repassados ao estado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) sejam destinados à compra de produtos da agricultura familiar.

Na solenidade em Belém, o presidente das Associações de Produtores Rurais, Mário Peixoto, e o secretário de estado de Educação, Claudio Ribeiro, assinaram acordo para a aquisição de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar no estado do Pará. Pelo acordo, R$ 20 milhões do PNAE serão utilizados para compra de frutas regionais, hortaliças e laticínios para escolas da região metropolitana de Belém.

No Pará, foi lançado no dia 31 de agosto o projeto Nutre que apoia a implantação da Lei da Alimentação Escolar nos municípios de Belém, Abaetetuba, Santarém, Ananindeua, Marituba, Barcarena, Igarapé Miri e Moju.

Desenvolvimento territorial

No primeiro ato do lançamento, o ministro Afonso Florence realizou entrega ao governador Jatene do Relatório de Síntese dos Planos de Desenvolvimento Territorial dos Territórios da Cidadania do estado do Pará.

O ministro Afonso Florence anunciou também a liberação de R$ 5,9 milhões para ações de estruturação e apoio à produção nos Territórios da Cidadania Baixo Amazonas, Baixo Tocantins, BR-163, Nordeste Paraense, Marajó, Sudeste Paraense, Sul do Pará/Alto Xingu e Transamazônica. Deste valor, R$ 2,8 milhões serão destinados a investimentos (R$ 350 mil para cada Território) e R$ 2,6 milhões para chamada pública de desenvolvimento territorial.

Desde a implantação dos Territórios da Cidadania, em 2008, o Governo Federal destinou R$ 3,2 bilhões para projetos de apoio a atividades produtivas, infraestrutura e cidadania e direitos no Pará.

Veículos para escoamento de produção

O MDA também fez a entrega de 15 novos veículos adquiridos com recursos do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (Pronat). Os novos automóveis (microônibus, picapes, vans, motocicletas e barcos) serão utilizados para transporte de filhos de produtores rurais que que frequentam as Casas Familiares Rurais (CFR) e a Escola Familiar Agrícola (EFA); escoamento da produção até os centros consumidores e reforço da assistência técnica dos agricultores familiares nos Territórios BR-163, Sul do Pará, Nordeste Paraense, Baixo Amazonas e Baixo Tocantins.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

4ª edição do Prêmio ODM Brasil

Estão abertas as inscrições para a 4ª edição do Prêmio ODM Brasil até o dia 31 de outubro de 2011. Para se inscrever, acesse http://www.odmbrasil.org.br/.

O Prêmio ODM Brasil foi criado em 2004 pelo governo federal - por meio da Secretaria-Geral da Presidência da República - pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade (Nós Podemos).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Programação do Seminário Mundial contra Belo Monte, em Altamira

Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na Bacia do Xingu
Seminário Mundial

Programação 1º dia – 25.10.2011

Manhã
Mesa de abertura: Saudação aos participantes
Painel 1 – Impactos dos grandes projetos hidrelétricos na Amazônia: a UHE Belo Monte e suas conseqüências
Tarde
Painel 2 – Violação dos direitos dos povos da Amazônia: a UHE Belo Monte e suas conseqüências
Noite
Programação Cultural

2º dia – 26.10.2011

Manhã
Oficinas temáticas
Manifestação pública em sintonia com a audiência na CIDH/OEA
Tarde
Grupos de Trabalho: definir mobilizações a partir da conjuntura atual
Noite
Programação Cultural

3º dia – 27.10.2011

Manhã
Plenária: resultado dos grupos de trabalho
Tarde
Encaminhamentos do seminário: Carta de Altamira

Apacc no blog Amazônia


Tecnologia Social da Apacc é finalista do Prêmio Fundação Banco do Brasil 2011

As Redes de Produção Agroecológica e Solidária, projeto da Associação Paraense de Apoio as Comunidades Carentes (Apacc), está entre as três melhores iniciativas da região Norte do país. Ela é uma das 27 tecnologias sociais finalistas da sexta edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil.

Tecnologias sociais são produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam soluções de transformação social. O projeto da Apacc busca fortalecer, de forma continuada, a produção familiar agroecológica, a fim de valorizar os produtos agroextrativistas e gerar renda - de forma sustentável e com segurança alimentar.

A tecnologia tem como ponto forte o processo organizacional, no qual agricultores e agricultoras produzem de forma planejada e comercializam com preservação ambiental. Isso tem proporcionado a comercialização dos produtos agroecológicos em feiras locais e regionais; venda direta ao consumidor; e por meio dos programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Das 1.116 tecnologias sociais inscritas, 264 foram certificadas e, em seguida, pontuadas segundo os critérios de efetividade, nível de sistematização da tecnologia e resultados qualitativos e quantitativos. Aquelas que somaram as médias mais altas formam o grupo das 27 finalistas, divididas em nove categorias: “Região Norte”, “Região Nordeste”, “Região Centro-Oeste”, “Região Sudeste”, “Região Sul”, "Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil", "Gestão de Recursos Hídricos", "Participação das Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais", e "Tecnologia Social na Construção de Políticas Públicas para a Erradicação da Pobreza". São três finalistas em cada uma delas.

Avaliação - Quatorze técnicos participaram das avaliações nessa etapa e verificaram, principalmente, se as tecnologias inscritas atendiam aos critérios listados no regulamento. Nos dias 15 e 16 de setembro, foram feitas visitas nas comunidades em Cametá para vivenciar as ações práticas e para reunir com agricultores e agricultoras, e com a equipe da Apacc.

O prêmio - A premiação das nove tecnologias vencedoras será em Brasília (DF), em novembro. Cada uma delas receberá o prêmio de R$ 80 mil. O resultado dos 27 projetos finalistas foi divulgado no dia 4 de outubro. As 264 tecnologias certificadas passam a integrar o Banco de Tecnologia Social (www.fbb.org.br/tecnologiasocial).
Concedido a cada dois anos, a premiação visa identificar, certificar, premiar e difundir tecnologias sociais já aplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional, e que sejam efetivas na solução de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. O prêmio conta com o patrocínio da Petrobrás e o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Unesco e da KPMG Auditores Independentes.


Clique na imagem para ver os finalistas


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Caixa seleciona projetos de desenvolvimento sustentável

A Caixa Econômica Federal, por meio do Fundo Socioambiental Caixa (FSA Caixa), abriu na última quarta-feira (28), por meio da Chamada Pública 004/2011, as inscrições para seleção de projetos na linha temática Desenvolvimento Local Sustentável. Os projetos – que receberão investimento de até R$ 120 mil cada um – deverão ser desenvolvidos no prazo de 24 meses. Podem se inscrever entidades civis sem fins lucrativos, de interesse público, com caráter socioambiental. A inscrição é gratuita e deve ser realizada no período de 28/09 a 21/10/2011.

Os projetos devem ter foco na geração de trabalho e renda, cujo objetivo é mobilizar recursos para assegurar e melhorar a renda de jovens, mulheres e homens que vivem em situação de vulnerabilidade socioambiental, bem como criar melhores condições e oportunidades de trabalho para essas pessoas.

Serão priorizados projetos de empreendedorismo, associativismo e combate à violência e exploração sexual de adolescentes, jovens, mulheres e homens. O regulamento está disponível na íntegra em http://www.caixa.gov.br/ no menu “Downloads”, link “Fundo Socioambiental Caixa” e “Chamada Pública 004/2011”.

Em maio/2011, a Caixa selecionou, por meio de Chamada Pública, projetos socioambientais para os municípios vinculados às superintendências regionais do banco no Amapá, Rondônia, Leste do Paraná (PR), Oeste de Santa Catarina (SC) e Extremo Sul (RS). Os investimentos focaram “Educação e Geração de Trabalho” e somaram um montante de R$ 509.237,00 em projetos para beneficiar crianças, jovens e mulheres e povos indígenas em situação de exploração sexual e/ou em vulnerabilidade socioambiental.

FSA Caixa
O FSA Caixa tem como objetivo apoiar projetos sociais e ambientais incentivando ações que visem à consolidação de uma sociedade economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente equilibrada. O Fundo tem diretrizes alinhadas aos desafios estratégicos da empresa e destina-se a ações socioambientais promotoras da cidadania e do desenvolvimento local, observando as seguintes diretrizes gerais:
• atuação em práticas com potencial de indução à formulação ou ao aprimoramento de políticas públicas;
• alinhamento com as Políticas de Responsabilidade Empresarial Social e Ambiental Corporativa da Caixa;
• promoção de ações estruturantes alinhadas às áreas de atuação da Caixa;
• promoção da cidadania;
• reaplicabilidade;
• sustentabilidade.

Programa Caixa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
A Caixa instituiu o Programa Caixa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em 2006. O Programa cria oportunidades nas áreas de educação e geração de trabalho e renda, por meio de projetos socioambientais e, com isso, visa a contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, bem como para o fortalecimento da cidadania e consolidação do desenvolvimento local sustentável no país, alinhado às políticas públicas.
Em 2010, o Programa Caixa ODM, por meio de um Acordo de Cooperação Técnica com o PNUD, apoiou 74 projetos, a fim de viabilizar os objetivos propostos para o Programa.

Fonte: http://refrescante.com.br/caixa-seleciona-projetos-de-desenvolvimento-sustentavel.html

Programa Petrobras Esporte & Cidadania

A Petrobras abriu processo seletivo para projetos sociais, através do Programa Petrobras Esporte & Cidadania, para projetos voltados ao desenvolvimento de crianças e adolescentes por meio do esporte, alinhados aos princípios de inclusão, educação integral, cidadania e diversidade.
A iniciativa é uma parceria com o Ministério do Esporte. As inscrições podem ser feitas gratuitamente no período de 1º agosto de 2011 até 1º de março de 2012, no site do Programa Petrobras Esporte & Cidadania (www.petrobras.com.br/ppec).

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Judiciário do Pará absolve acusado de abuso sexual

A 3ª Câmara Criminal Isolada, do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, absolveu na última quinta-feira (6), por dois votos a um, o ex-deputado estadual Luiz Afonso Sefer. Ele foi acusado de abusar sexualmente de uma adolescente durante quatro anos (os abusos teriam começado quando a menina tinha 9 anos). O resultado do julgamento mostra que membros do Judiciário Paraense ainda não consideram que os depoimentos e mesmo o contexto de extrema violência sofrido por crianças e adolescentes sejam suficientes para condenar acusados de crimes sexuais. Várias vezes durante o julgamento, a menina chegou a ser acusada de estar “prejudicando” o ex-deputado por vingança. Vale lembrar que ela foi trazida do interior para a casa do político quando ainda era criança.

A maioria dos desembargadores acompanhou o voto do desembargador João Maroja, que considerou o depoimento da adolescente duvidoso. O magistrado também não considerou as provas periciais (que confirmaram a prática de crimes sexuais continuados contra a criança) e achou que os depoimentos de testemunhas também não foram suficientes para condenar o político.

Sefer foi defendido por vários advogados, entre eles o ex-ministro da Justiça no governo Lula, Márcio Tomás Bastos.

A decisão não chegou a surpreender os defensores da adolescente, nem mesmo membros do Comitê Estadual de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Para essas entidades, o Sistema de Justiça ainda está distante de reconhecer o sofrimento e a legitimidade no depoimento de vítimas, sobretudo de crimes sexuais em que figuram como acusados pessoas com grande poder econômico e político.

Ainda há possibilidades de recurso, que estão sendo estudadas pelos assistentes de acusação na tentativa de reverter a decisão adotada no âmbito do Judiciário paraense.

Campanha Nacional contra a Intolerância Religiosa em Belém

No dia 15 de outubro, A Rede Ecumênica de Juventude (Reju), Instituto Universidade Popular (Unipop) e o Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (Caic) promovem seminário contra a intolerância religiosa, como parte da Campanha Nacional Contra a Intolerância Religiosa e o Combate ao Extermínio da Juventude. Esta é uma ação proposta pela Reju para 2011 em todas as regiões do Brasil.
O encontro será no Porão Cultural da Unipop, na av. Senador Lemos, 557, entre as travessas Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas, de 8 às 17 horas. A inscrição custa R$ 5. Informações: 3261 4260 / 81074922 / rejuamazonia@gmail.com.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Abong realiza seminário em comemoração aos 20 anos

Nos dias 19 e 20 de setembro, a Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (Abong) realizou em São Paulo (SP) seminário internacional em comemoração aos 20 anos da associação. As conferências e painéis temáticos possibilitaram analisar a complexidade do campo de atuação das organizações da sociedade civil, bem como fortalecer sua ação política na disputa por novos paradigmas de desenvolvimento, pela radicalização da democracia e efetivação dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais (DHESCAs).

O evento contou com as presenças de Lilian Celiberti, feminista e ativista política uruguaia, e do pensador Michael Löwy. A Associação Paraense de Apoio as Comunidades Carentes (Apacc) foi representada no evento pelo coordenador executivo do Polo Rural, Franquismar Marciel. A entidade é associada à Abong e integra a coordenação da Regional Norte.

Carta de Salvador

Somos 300 cidadãos e cidadãs brasileiras integrados à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), à Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), à Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN), à Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), à Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), à Marcha Mundial de Mulheres e à Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), em reunião na cidade de Salvador-BA, entre os dias 26 a 29 de setembro de 2011, durante o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo.

Nosso encontro resulta de um longo e fecundo processo de preparação motivado pela identificação e sistematização de casos emblemáticos que expressam as variadas formas de resistência das camadas populares em suas diferentes expressões socioculturais e sua capacidade de gerar propostas alternativas ao modelo de desenvolvimento hegemônico em nosso país. Vindos de todas as regiões do país, esses casos iluminaram nossos debates durante esses três dias e fundamentam a manifestação política que apresentamos nesta carta.

Ao alimentar esse padrão de desenvolvimento, o governo Dilma inviabiliza a justa prioridade que atribuiu ao combate à miséria em nosso país. Tendo como eixo estruturante o crescimento econômico pela via da exportação de commodities, esse padrão gera efeitos perversos que se alastram em cadeia sobre a nossa sociedade. No mundo rural, a expressão mais visível da implantação dessa lógica econômica é a expropriação das populações de seus meios e modos de vida, acentuando os níveis de degradação ambiental, da pobreza e da dependência desse importante segmento da sociedade a políticas sociais compensatórias. Esse modelo que se faz presente desde o início de nossa formação histórica ganhou forte impulso nas últimas décadas com o alinhamento dos seguidos governos aos projetos expansivos do capital internacional. Materialmente, ele se ancora na expansão do agronegócio e em grandes projetos de infraestrutura implantados para favorecer a extração e o escoamento de riquezas naturais para os mercados globais.

Os casos emblemáticos que subsidiaram nossos diálogos demonstram a essência violenta desse modelo que viola o “direito de ficar”, desterritorializando as populações, o que significa subtrair delas a terra de trabalho, o livre acesso aos recursos naturais, suas formas de organização econômica e suas identidades socioculturais. Os movimentos massivos de migração compulsória daí decorrentes estão na raiz de um padrão de distribuição demográfica insustentável e que cada vez mais converte as cidades em polos de concentração da pobreza, ao passo que o mundo rural vai se desenhando como um cenário de ocupação do capital e de seu projeto de uma agricultura sem agricultoras e agricultores.

A progressiva deterioração da saúde coletiva é o indicador mais significativo das contradições de um modelo que alça o Brasil a uma das principais economias mundiais ao mesmo tempo em que depende da manutenção e seguida expansão de políticas de combate à fome e à desnutrição. Constatamos também que esse modelo se estrutura e acentua as desigualdades de gênero, de geração, de raça e etnia.

Nossas análises convergiram para a constatação de que os maiores beneficiários e principais indutores desse modelo são corporações transnacionais do grande capital agroindustrial e financeiro. Apesar de seus crescentes investimentos em marqueting social e verde, essas corporações já não conseguem ocultar suas responsabilidades na produção de uma crise de sustentabilidade planetária que atinge inclusive os países mais desenvolvidos e que se manifesta em desequilíbrios sistêmicos expressos no crescimento do desemprego estrutural, na acentuação da pobreza e da fome, nas mudanças climáticas, na crise energética e na degradação acelerada dos recursos do ambiente.

As experiências mobilizadas pelas redes aqui em diálogo denunciam as raízes perversas desse modelo ao mesmo tempo em que contestam radicalmente as falsas soluções à crise planetária que vêm sendo apregoadas pelos seus agentes promotores e principais beneficiários. Ao se constituírem como expressões locais de resistência, essas experiências apontam também caminhos para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável.

A multiplicação dessas iniciativas de defesa de territórios, promoção da justiça ambiental e de denúncia dos conflitos socioambientais estão na raiz do recrudescimento da violência no campo que assistimos nos últimos anos. O assassinato de nossos companheiros e companheiras nessas frentes de luta é o mais cruel e doloroso tributo que o agronegócio e outras expressões do capital impõem aos militantes do povo e ao conjunto da sociedade com suas práticas criminosas.

Nossos diálogos procuraram construir convergências em torno de temas que mobilizam as práticas de resistência e de afirmação de alternativas para a sociedade.

Os diálogos sobre reforma agrária, direitos territoriais e justiça ambiental responsabilizaram o Estado face ao quadro de violência com assassinatos, expulsão e deslocamentos compulsórios de populações pela ação dos grandes projetos como as hidrelétricas, expansão das monoculturas e o crescimento da mineração; a incorporação de áreas de produção de agrocombustíveis, reduzindo a produção de alimentos; a pressão sobre as populações que ocupam tradicionalmente áreas de florestas, ribeirinhas e litorâneas, como os mangues, os territórios da pesca artesanal, com a desestruturação de seus meios de vida e ameaça ao acesso à água e à soberania alimentar.

As convergências se voltaram para a reafirmação da centralidade da luta pela terra, pela reforma agrária e pela garantia dos direitos territoriais das populações. O direito à terra está indissociado da valorização das diferentes formas de viver e produzir nos territórios, reconhecendo a contribuição que povos e populações tradicionais oferecem à conservação dos ecossistemas; do reconhecimento dos recursos ambientais como bens coletivos para o presente e o futuro; e os direitos das populações do campo e da cidade a uma proteção ambiental equânime. Convergimos ainda na afirmação de que o direito à terra e os direitos à água, à soberania alimentar e à saúde estão fortemente associados.

Reconhecemos a importância da mobilização em apoio ao Movimento Xingu para sempre - em defesa da vida e do Rio Xingu, considerado como um exemplo emblemático de luta de resistência ao atual modelo de desenvolvimento. Defendemos o fortalecimento da articulação dos atingidos pela empresa Vale e as propostas que combinem a gestão ambiental com a produção agroecológica, a exemplos de experiências inovadoras dos movimentos sociais em assentamentos da Reforma Agrária.

No debate sobre mudanças climáticas, seus impactos, mecanismos de mercado e a agroecologia como alternativa, recusamos que a proposta agroecológica seja apropriada como mecanismo de compensação, seja ele no invisível e inseguro mercado de carbono, seja em REDD, REDD+, REDD++ (redução das emissões por desmatamento e degradação) ou ainda dentro do pagamento de serviços ambientais. A Rio +20 engendra e consolida a chamada “economia verde”, que pode significar uma apropriação, pelo capitalismo, das alternativas construídas pela agricultura familiar e camponesa e pela economia solidária, reduzindo a crise socioambiental a um problema de mercado.

A Agroecologia não é uma simples prestadora de serviços, contratualizada com setor privado. Ela reúne nossas convergências no campo e na cidade, trabalhando com gente como fundamento. É possível financiar a Agroecologia a partir da contaminação, escravidão, racismo e acumulação cada vez maior do capital? É possível fazer um enfrentamento a partir do pagamento de serviços ambientais por contratos privados, parcerias público-privadas?

Ao debater os impactos da expansão dos monocultivos para agrocombustíveis e padrões alternativos de produção e uso de energia no mundo rural, os diálogos apontaram que a energia é estratégica como elemento de poder e autonomia dos povos, mas está diretamente ligada ao modelo (hegemônico e falido) de consumo, produção e distribuição. A produção de agrocombustiveis, baseada na monocultura, na destruição do ambiente, na violação dos direitos e injustiças sociais e ambientais, associa-se ao agronegócio e ameaça a soberania alimentar.

As políticas públicas sistematicamente desvirtuam as propostas calcadas nas experiências populares, colocando as cooperativas e iniciativas da agricultura familiar na lógica da competição de mercado e em patamar desigual em relação às corporações, tal qual ocorre nas áreas de geração de energia elétrica, segurança alimentar, ciência e tecnologia ou mesmo da economia solidaria.

Nas políticas para os agrocombustiveis, a agricultura familiar é inserida como mera fornecedora de matérias primas e o modelo de integração é dominante, mascarando o arrendamento e assalariamento do campesinato e embutindo o pacote tecnológico da revolução verde através das políticas de crédito, assistência técnica e extensão rural. O diálogo do governo com os movimentos sociais se precariza pela setorização e atomização das relações, enquanto a mistura de interesses e operações entre MDA e Petrobrás acaba por legitimar o canal de negociação empresarial no marco de uma política pública.

As experiências de produção descentralizada de energia e alimentos apontam como soluções reais aquelas articuladas por organizações e movimentos sociais que integram as perspectivas da agroecologia, da soberania alimentar e energética, da economia solidária, do feminismo e da justiça social e ambiental, e são baseadas na forte identidade territorial e prévia organização das comunidades.

Estas iniciativas têm em comum a diversificação da produção e dos mercados e a prioridade no uso dos recursos, dos saberes e dos espaços de comercialização locais. Estão sob o controle dos agricultores e têm autonomia frente às empresas e ao Estado. Articulam-se a programas e políticas públicas diversas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), não apenas ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Os processos de transformação estão sob o domínio das organizações em toda a cadeia produtiva, e há diversificação da produção de alimentos e de matriz energética e co-produtos, para além e como conseqüência da produção de combustível. As formas de produção estão em rede e têm capacidade de se contrapor aos sistemas convencionais como premissa de sua permanência no território.

Com base nestes princípios e lições, as políticas públicas para a promoção da produção de energia e alimentos devem ter: um marco legal diferenciado para a agricultura familiar; promover a produção e uso diversificado de óleos, seus co-produtos e outras culturas, adequadas à diversidade cultural e biológica regional; atender à demanda de adequação e desenvolvimento de tecnologia e equipamentos apropriados, acompanhada de processos de formação e de redes de inovação nas universidades; além de proporcionar autonomia na distribuição e consumo local de óleos vegetais, biodiesel e álcool.

Os diálogos sobre os agrotóxicos e transgênicos, articulando as visões da justiça ambiental, saúde ambiental e promoção da agroecologia, responsabilizaram o Estado pelas políticas de ocultamento de seus impactos expressas nas dificuldades de acesso aos dados oficiais de consumo de agrotóxicos e de laudos técnicos sobre casos de contaminação; na liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) sem debate democrático com a sociedade e sem atender ao princípio da precaução; na frágil vigilância e fiscalização trabalhista, ambiental e sanitária; na dificuldade do acesso aos laboratórios públicos para análise de amostras de contaminação por transgênicos e por agrotóxicos no ar, água, alimentos e sangue; terminando por promover um modelo de desenvolvimento para o campo que concentra terra, riqueza e renda, com impactos diretos nas populações mais vulneráveis em termos socioambientais.

Há um chamamento para que o Estado se comprometa com a apuração das denúncias e investigação dos crimes, a exemplo do assassinato do líder comunitário José Maria da Chapada do Apodi, no Ceará; com a defesa de pesquisadores criminalizados por visibilizar os impactos dos agrotóxicos e por produzir conhecimentos compartilhados com os movimentos sociais; com políticas públicas que potencializem a transição agroecológica – facilitando o acesso ao crédito, à assistência técnica adequada e que reconheça os conhecimentos e práticas agroecológicas das comunidades camponesas.

Não há possibilidade de convivência entre o modelo do agronegócio e o modelo da agroecologia no mesmo território, porque o desmatamento e as pulverizações de agrotóxicos geram desequilíbrios nos ecossistemas afetando diretamente as unidades agroecológicas. As políticas públicas devem estar atentas aos impactos dos agrotóxicos sobre as mulheres (abortos, leite materno, etc.) pois estas estão expostas de diferentes formas, que vão desde o trabalho nas lavouras até o momento da lavagem da roupa dos que utilizam os agrotóxicos. O uso seguro dos agrotóxicos e transgênicos é um mito e um paradigma que precisa ser desconstruído.

É fundamental a convergência de nossas ações com a Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, ampliando os diálogos e convergências com os movimentos sociais do campo e da cidade, agregando novas redes que não estiveram presentes nesse Encontro de Diálogos e Convergências. Temos que denunciar esse modelo do agronegócio para o mundo e buscar superá-lo por meio de políticas públicas que possam inibir o uso de agrotóxicos e transgênicos, a exemplo da proibição da pulverização aérea, ou ainda direcionando os recursos oriundos dos impostos dos agrotóxicos, cuja produção e comercialização é vergonhosamente subsidiada pelo Estado. O fim dos subsídios contribuiria para financiar o SUS e a agroecologia.

Com relação aos direitos dos agricultores, povos e comunidades tradicionais ao livre uso da biodiversidade, constatamos que está em curso, nos territórios, um processo de privatização da terra e da biodiversidade manejada pela produção familiar e camponesa, povos e comunidades tradicionais. Tal privatização é aprofundada pela flexibilização do Código Florestal, que é uma grande ameaça e abre caminhos para um processo brutal de destruição ambiental e apropriação de terra e territórios pelo agronegócio.

A privatização das sementes e mudas, dos conhecimentos tradicionais e dos diversos componentes da biodiversidade vem se dando de forma acelerada, com o Estado cumprindo um papel decisivo na mediação (regulamentação e políticas públicas) dos contratos estabelecidos entre empresas e comunidades, representando sérios riscos aos direitos ao livre uso da biodiversidade.

Causa grande preocupação que as questões nacionais sobre conservação e uso da biodiversidade estejam sendo discutidas e encaminhadas sem a participação efetiva das populações diretamente atingidas, estando sujeitas a agendas internacionais como a Rio +20. Consideramos uma violação a atual forma de “consulta” sobre importantes instrumentos legais e de política concentrada em poucos atores e de questionável representatividade.

Experiências presentes neste encontro demonstram avanços e se fortalecem a partir da legitimidade de suas práticas e aproveitando as brechas existentes na legislação. Este é o caso, por exemplo, dos bancos comunitários de sementes no semiárido; da produção de sementes agroecológicas a partir de variedades de domínio público; da auto-regulação dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais do Cerrado; da constituição de um fundo público das quebradeiras de coco babaçu através da repartição de benefícios que reconhece o conhecimento tradicional associado.

É necessário aprofundar a organização das agricultoras e dos agricultores, extrativistas, povos e comunidades tradicionais em seus territórios, de forma a fortalecer os princípios e ações de cooperativismo e suas interlocuções com as redes regionais, estaduais e nacionais como estratégia de resistência e construção de alternativas. A geração de alternativas econômicas é crucial neste contexto. A apropriação do debate em torno dos direitos pode facilitar e fortalecer o diálogo de nossas redes e movimentos com a sociedade civil de modo geral, de modo a visibilizar a importância dos modos de vida destas comunidades para a garantia de direitos humanos, como o direito à alimentação adequada e saudável.

Nos diálogos sobre Soberania Alimentar e Nutricional, Economia Solidária e Agroecologia, as experiências apontaram o grande acúmulo na construção de alternativas ao atual modelo agroalimentar, que garantam, de forma articulada, a soberania alimentar e nutricional, a emancipação econômica dos trabalhadores e trabalhadoras nos territórios, em especial as mulheres, a promoção da saúde pública e a preservação ambiental. Constatou-se que estas iniciativas contribuem com a construção concreta e material de propostas diferenciadas de desenvolvimento, calcadas nas realidades, cultura e autonomia dos sujeitos dos territórios e orientadas para a justiça socioambiental, a democracia econômica e o direito à alimentação adequada.

Estes acúmulos se expressam através da existência e resistência de dezenas de milhares de empreendimentos e iniciativas de Economia Solidária e Agroecologia, especialmente quando articuladas e organizadas em redes e circuitos de produção, comercialização e consumo, que aproximam produtores e consumidores e fortalecem a economia e cultura locais, num enfrentamento à desterritorialização e desigualdades de gênero, raça e etnia inerentes ao atual padrão hegemônico de produção e distribuição agroalimentar.

Constatou-se que os programas de alimentação escolar (PNAE) e de aquisição de alimentos (PAA), assim como o reconhecimento constitucional do direito à alimentação e a implantação do Sistema e Política de Segurança Alimentar e Nutricional, são conquistas importantes para a agricultura familiar e camponesa. Por outro lado, de forma paradoxal, o Estado tem apoiado fortemente o agronegócio, através da subordinação de sua ação a interesses do capital, e da falta de um horizonte e estratégia definidos de expansão do orçamento do PAA e do PNAE.

As vivências e experiências denunciam também a grande quantidade de barreiras ao acesso das iniciativas e empreendimentos de Economia Solidária e Agroecologia a políticas públicas e ao mercado. Tais barreiras se expressam em uma legislação e inspeção sanitárias e tributárias incompatíveis às realidades das/dos produtoras/es e trabalhadoras/es associadas/os, em especial no processamento e agroindustrialização de polpas, doces e alimentos de origem animal. Estas barreiras, somadas à burocratização na aquisição da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) e a uma ofensiva de setores empresariais que têm denunciado à ANVISA empreendimentos produtivos assim que estes começam a se fortalecer, têm impedido o escoamento da produção dentro e fora do município e o acesso ao PAA e ao PNAE. O direito à organização do trabalho e da produção de forma associada só existirá com a conquista de garantias e condições legislativas, tributárias e de financiamento que sejam justas.

Os diálogos apontaram também a luta pelo consumo responsável, solidário e consciente como um campo importante de convergência entre as redes e movimentos e como um desdobramento concreto deste Encontro, através da construção conjunta de um diálogo pedagógico com a sociedade, tanto denunciando os impactos e danos dos alimentos vindos do agronegócio e contaminados com agrotóxicos, o que exige a regulação da publicidade de alimentos, quanto anunciando as alternativas disponíveis na Agroecologia e na Economia Solidária.

Em busca de novos caminhos
Os exercícios de diálogos que estamos realizando há dois anos e os excelentes resultados a que chegamos em nosso encontro reiteram a necessidade de fortalecermos nossas alianças estratégicas e renovarmos nossos métodos de ação convergente. As experiências que ancoraram nossas reflexões deixam claro que os temas que identificam as bandeiras de nossas redes e movimentos integram-se nas lutas do cotidiano que se desenvolvem nos campos e nas cidades contra os mecanismos de expropriação impostos pelo capital e em defesa dos territórios. Evidenciam, assim, a necessidade de intensificarmos e multiplicarmos as práticas de diálogos e convergências desde o âmbito local, onde as disputas territoriais materializam-se na forma de conflitos socioambientais, com impacto na saúde das populações, até níveis regionais, nacionais e internacionais, fundamentais para que as causas estruturais do atual modelo hegemônico sejam transformadas.

A natureza local e diversificada de nossas lutas vem até hoje facilitando as estratégias de sua invisibilização pelos setores hegemônicos e beneficiários do modelo. Esse fato nos indica a necessidade de atuarmos de forma articulada, incorporando formas criativas de denúncia, promovendo a visibilidade dos conflitos e das proposições que emergem das experiências populares.

Uma das linhas estratégicas para a promoção dos diálogos e convergências é a produção e disseminação de conhecimento sobre as trajetórias históricas de disputas territoriais e suas atuais manifestações. Nesse sentido, as alianças com o mundo acadêmico devem ser reforçadas também como parte de uma estratégia de reorientação das instituições do Estado, no sentido destas reforçarem as lutas pela justiça social e ambiental. Estimulamos a elaboração e uso de mapas que expressem as diferentes dimensões das lutas territoriais pelos seus protagonistas como uma estratégia de visibilização e articulação entre nossas redes e movimentos. O Intermapas já é uma expressão material das convergências.

Outra linha estratégica fundamenta-se em nossa afirmação de que a comunicação é um direito das pessoas e dos povos. Reafirmamos a importância, a necessidade e a obrigação de nos comunicarmos para tornar visíveis nossas realidades, nossas pautas e nosso projeto de desenvolvimento para o país. A mudança do marco regulatório da mídia é condição para a democratização dos meios de comunicação. Repudiamos as posturas de criminalização e as formas de representação que a mídia hegemônica adota ao abordar os territórios, modos de vida e lutas. Contestamos a produção da invisibilidade nesses meios de comunicação. O Estado deve se comprometer a financiar nossas mídias, inclusive para que possamos ampliar projetos de formação de comunicadores e de estruturação dos nossos próprios veículos de comunicação. As mídias públicas devem ser veículos para comunicar aprendizados de nossas experiências, proposições e campanhas. Por uma comunicação livre, democrática, comunitária, igualitária, plural e que defenda a vida acima do lucro.

Nossos diálogos convergem também para a necessidade do reconhecimento das mulheres como sujeito político, a importância de sua auto-organização e a centralidade do questionamento da divisão sexual do trabalho que desvaloriza e separa trabalho das mulheres em relação ao dos homens, assim negando a contribuição econômica da atividade doméstica de cuidados e a produção para o autoconsumo. Convergimos na compreensão do sentido crítico do pensamento e ação feministas para ressignificar e ampliar o sentido do trabalho e sua centralidade para a produção do viver.

A apropriação do feminismo como ferramenta política contribuirá para recuperar e visibilizar as experiências, os conhecimentos e as práticas das mulheres na construção da agroecologia, da economia solidária, da justiça ambiental e para garantir sua autonomia econômica.

Mas a história também mostra que o permanente exercício da violência dos homens contra as mulheres é um poderoso instrumento de dominação e controle patriarcal que fere a dignidade das mulheres e impede a conquista de sua autonomia, e as exclui dos espaços de poder e decisão. A violência contra as mulheres não é agroecológica, não é solidaria, não é sustentável, não é justa. Por isso é fundamental que as redes que estão organizando o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências assumam a erradicação da violência contra as mulheres como parte de um novo modelo de produção e consumo, que deve ter como um eixo fundamental a construção de novas relações humanas baseadas na igualdade.

O papel do Estado democrático é o de construir um país de cidadãos e cidadãs, promover e defender a organização da sociedade civil e de estabelecer com ela relações que permitam à sociedade reconhecer nas instituições a expressão do compromisso com o público e com a sustentabilidade. Esse princípio é contraditório com qualquer prática de criminalização dos movimentos e organizações que lutam por direitos civis de acesso soberano aos territórios e seus recursos.

As redes e movimentos promotores deste Encontro saem fortalecidos e têm ampliadas suas capacidades de expressão pública e ação política. Estamos apenas no início de um processo que se desdobrará em ambientes de diálogos e convergências que se organizarão a partir dos territórios, o lugar onde nossas lutas se integram na prática.

Salvador, 29 de setembro de 2011

Fonte: www.dialogoseconvergencias.org/noticias/carta-politica-do-encontro-nacional-de-dialogos-e-convergencias

Seminário Mundial contra Belo Monte: a luta contra os projetos hidrelétricos na Bacia do Xingu

Atendendo ao chamado dos povos do Xingu, em especial dos pescadores que, sem ter respostas do governo, já que querem saber o que realmente acontecerá com suas vidas, com a vida da floresta, com a vida do rio se a usina de Belo Monte for construída, diversas organizações, movimentos sociais, fóruns e indivíduos se reuniram para construir um grande seminário mundial denominado “Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu”.

Este seminário objetivará, à luz dos estudos e pesquisas científicas já realizadas, mas também a partir das experiências concretas vivenciadas na região, discutir com estudantes, trabalhadores das áreas rurais e urbanas, especialistas, juristas, com os povos da Amazônia e do mundo, os impactos e problemas ambientais, sociais, econômicos, políticos e culturais, entre outros, que decorrerão de Belo Monte.

O seminário ocorrerá de 25 a 27 de outubro de 2011, na cidade de Altamira (PA). Para maiores informações, entrar em contato pelo e-mail comitexinguvivo@hotmail.com.

MDA participa da 1ª Conferência Territorial de Juventude do Baixo Tocantins

03/10/2011 07:17

Cem jovens, quilombolas, ribeirinhos e pescadores de onze municípios do Território da Cidadania Baixo Tocantins (PA) debateram sobre políticas públicas para juventude, dançaram de carimbó e samba de cacete durante 1ª Conferência Territorial de Juventude no que aconteceu no sábado (1) e domingo (2).

“A juventude rural precisa falar, precisa dialogar sobre seus direitos, sua realidade e sobre a implantação de políticas públicas”, assim Ana Carolina Silva, Assessora Especial para Juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), defini o proposito do processo de conferências de juventude.

A conferência do Baixo Tocantins, foi etapa preparatória para a Conferência Estadual do Pará, que  vai ocorrer nos final de semana de 15 e 16 de outubro, elegendo delegados e definindo as prioridades do estado para a 2ª Conferência Nacional de Juventude, programada para dezembro em Brasília (DF).

Dinâmicas de grupo serviram como impulso para o debate do texto base nacional utilizado para subsidio no processo de formulação das diretrizes para a construção de políticas públicas. “Necessitamos pautar as políticas públicas direcionadas para os jovens, articulando a juventude do campo e da floresta para que o debate nacional represente todos os jovens e não só alguns” destacau Ana Carolina Silva.

Texto base das políticas públicas da juventude rural
O texto base para a implantação de políticas públicas direcionadas à juventude rural é norteado por cinco eixos de discussão:

• Desenvolvimento Integral, eixo que engloba a educação, de forma específica, direcionada à juventude rural, respeitando as características culturais e regionais das comunidades, com o intuito de incluir. Gerando discussões, ainda sobre cultura, comunicação e trabalho.

• Direito ao Território, elabora a discussão entre os aspectos da juventude do campo e da cidade, suas semelhanças e diferenças. Considerando aspectos com transporte, meio ambiente e comunidades tradicionais.

• Direito à Experimentação e Qualidade de Vida, conduz temas como saúde, esporte e lazer à implantação de políticas.

• Direito a Diversidade e Vida Segura.

• Direito à Participação , propicia a discussão dos jovens em construir e intervir em espaços públicos, no caso da juventude rural, também visa a criação de comitês de juventude em todos os Colegiados Territoriais.